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A criança alérgica na escola

 

Dra Alexandra Rodrigues

Pediatra

Hospital Central do Funchal

Nos últimos anos, observou-se um aumento significativo no número de crianças com doença alérgica. Isto pode ser atribuído a uma variedade de fatores, incluindo mudanças no estilo de vida e no ambiente em que vivemos.

Considerando que as crianças passam grande parte do seu tempo em ambiente escolar, é importante saber identificar as manifestações de doença alérgica para que se possa rapidamente instituir o tratamento necessário e/ou orientar a criança aos cuidados de saúde.

 

O que é uma alergia?

A alergia é uma resposta exagerada do sistema imunológico após o contacto, ingestão ou inalação de uma substância inocente. Estas substâncias são chamadas de alergenos e são, habitualmente, toleradas pela maioria das pessoas. No caso de uma reação alérgica são identificadas como nocivas e o nosso organismo desenvolve uma estratégia para as eliminar. São exemplos de alergenos comuns os ácaros do pó, os pólens, os fungos, alimentos como o leite, ovo, marisco, frutos secos.

Existem diferentes tipos de alergias, assim como várias formas dessas mesmas alergias se manifestarem.

 

Alergia respiratória

Dentro da alergia respiratória podemos considerar as seguintes patologias:

Asma - doença inflamatória crónica das vias aéreas, que as torna mais reativas aos estímulos. Caracteriza-se por episódios de tosse seca persistente, pieira, dificuldade em respirar ou sensação de aperto no peito.

Rinite - processo inflamatório do revestimento interno (mucosa) do nariz. Manifesta-se por obstrução, corrimento nasal e prurido (comichão) nasal.

Sinusite - consiste na inflamação da mucosa dos seios perinasais (cavidades aéreas dentro dos ossos do crânio e face, ao redor do nariz). Ocorre muitas vezes concomitantemente com a rinite. Para além dos sintomas semelhantes à rinite, pode ainda originar dor de cabeça ou de garganta, secreções nasais espessas, secreções posteriores, mau hálito, sensação de dor ou pressão na face.

Conjuntivite – inflamação da conjuntiva, que é uma membrana que reveste a superfície da córnea e a parte interior das pálpebras, protegendo-os de substâncias estranhas. Causa aos doentes olhos vermelhos e lacrimejantes, edema (inchaço) das pálpebras, prurido, sensibilidade à luz, sensação de corpo estranho, secreções purulentas. Também costuma estar presente associada a rinite.

A alergia respiratória manifesta-se quando há contacto com os alergenos, sendo os mais frequentemente implicados os ácaros do pó, fungos e pólens; ou agentes irritativos como tabaco, produtos de limpeza, perfumes e até o frio. As infecções respiratórias, virais ou bacterianas, também podem desencadear um agravamento num doente com alergia respiratória.

 

Alergia alimentar

A alergia alimentar ocorre após a ingestão, contacto ou inalação de vapores de cozedura de um determinado alimento.

Qualquer alimento pode desencadear uma reação alérgica, mas os alimentos responsáveis pela grande maioria das alergias alimentares são: leite, ovo, peixe, marisco, frutos secos, soja e trigo. Nas crianças pequenas o leite e o ovo são os principais alergenos causadores de alergia.

Perante a suspeita de uma alergia alimentar, deve ser feita a evicção desse alimento e iniciada a investigação para confirmação ou exclusão da patologia. É fundamental um correcto diagnóstico de alergia alimentar, pois a exclusão de um ou vários alimentos tem implicações, não só a nível nutricional, como psicológico e social.

Confirmado o diagnóstico deve-se excluir o alimento da dieta, assim como de todos os alimentos que o possam conter. Aparentemente simples na maioria dos alimentos, contudo, um desafio em alimentos como, por exemplo, o leite. O leite pode estar presente em muitos alimentos processados, “disfarçado” com nomes menos óbvios como por exemplo: soro, caseína, caseinato, lactoalbumina, fosfato de lactalbumina, lactoglobulina, lactulose, lactose, aroma artificial de manteiga, gordura de manteiga, óleo de manteiga, entre outros. É fundamental a educação dos cuidadores, para que estejam familiarizados com a terminologia e treinados na leitura de rótulos. É também fulcral informar a escola, e até os colegas, de uma alergia alimentar e que alimentos a criança pode ou não ingerir. No caso das crianças pequenas é necessário ter em conta que o mero contacto com o alimento pode desencadear uma reação, e nesse caso, evitar que a criança toque nos alimentos dos colegas ou em utensílios com vestígios de alimentos (talheres, mesas, toalhas).

 

Alergia a insectos

As reações a picadas de insetos são, na sua maioria, situações benignas e ligeiras, dando origem a lesões cutâneas designadas de pápulas (as chamadas “babas”) e muito prurido. Estas ocorrem após a picada de insectos como mosquitos, melgas, moscas, pulgas e percevejos.

Contudo, o veneno das abelhas e vespas pode provocar reações alérgicas graves. Estas reações podem ser locais, com uma lesão exuberante associadas a dor, edema, eritema (vermelhidão) e calor, ou sistémicas, quando dão origem a reação que atinge vários sistemas de órgãos.

 

Alergia medicamentosa

Ocorre quando o doente apresenta sintomas após a administração de um fármaco. Qualquer fármaco é susceptível de causar uma reação alérgica. Em idade pediátrica os fármacos mais comummente envolvidos são os antibióticos betalactâmicos (penicilinas) e os anti-inflamatórios não esteroides. Mais uma vez é fundamental a confirmação diagnóstica, para que se possa instituir o tratamento mais adequado quando necessário.

 

Dermatite atópica

A dermatite atópica é uma doença inflamatória crónica da pele, frequente na infância. Caracteriza-se por lesões da pele avermelhadas, descamativas, que podem apresentar exsudação e formação de crosta. Estas lesões originam muito prurido, de tal modo que podem interferir nas actividades da criança, assim como no sono. O tratamento da dermatite atópica assenta na hidratação da pele e aplicação de corticosteroides tópicos (em pomada ou creme).

 

Quais são os sintomas de uma reação alérgica?

Uma reacção alérgica pode manifestar-se através de:

  • Sintomas respiratórios: tosse, falta de ar, pieira, espirros, obstrução ou corrimento nasal
  • Sintomas cutâneos: erupção cutânea, prurido, edema
  • Sintomas gastrointestinais: dor abdominal, náuseas, vómitos, diarreia
  • Sintomas cardiovasculares: tonturas, palpitações, desmaio

A anafilaxia ou reação anafiláctica é a forma mais grave de manifestação de uma reação alérgica, e é potencialmente fatal. Requer tratamento imediato e avaliação médica logo que possível. Consiste numa reação que atinge diferentes sistemas de órgãos simultaneamente, pelo que várias combinações de sintomas podem estar presentes. Devemos suspeitar de uma anafilaxia perante a presença de sintomas graves como falta de ar, dificuldade respiratória, tonturas, perda de consciência, sensação de aperto na garganta, edema da face ou da língua.

A causa mais frequente de anafilaxia é a alergia alimentar.

 

 

O que fazer perante uma reação alérgica?

As crianças com doença alérgica devem estar acompanhadas pela medicação habitual e por um plano de tratamento escrito, que deve ser aplicado em caso de alergia. No caso de haver um alergeno identificado, como um alimento suspeito por exemplo, a criança deve ser afastada e devem ser limpos os do alergeno.

O tratamento farmacológico depende do tipo de sintomas presentes.

Na presença de sintomas como manchas na pele, obstrução ou corrimento nasal, espirros, prurido nasal ou ocular, lacrimejo, olhos vermelhos ou inchados, deve ser administrado o anti-histamínico prescrito.

Em caso de tosse, pieira, falta de ar ou aperto no peito deve ser administrado o inalador. As crianças maiores e adolescentes podem administrar o inalador sozinhas, as crianças pequenas necessitam de ajuda para o fazer. Nesta faixa etária o inalador deve ser administrado com a ajuda de uma câmara expansora.

Em caso de uma reação alérgica grave, como a anafilaxia, é necessária a administração de adrenalina intramuscular, recorrendo ao auto-injector com o fármaco.

Pode ser administrado pelo próprio doente, no caso dos adolescentes, ou por pais, familiares, cuidadores, enfermeiros, educadores, professores.

Em primeiro lugar deve-se deitar o doente e aplicar a adrenalina do lado de fora da coxa, entre a anca e o joelho, mantendo pressionada durante 10 segundos. Pode ser administrada por cima da roupa.

A criança necessita sempre de observação médica se apresentar uma anafilaxia, portanto o cuidador deve ligar para o 112 ou dirigir-se ao Hospital, após administrar a adrenalina.

 

Impacto na vida da criança

Considerando as consequências destas patologias, ressalvo novamente a importância de uma correcta orientação e acompanhamento por um profissional capacitado, para que sejam feitos os diagnósticos correctos, os ensinos necessários, e podermos minimizar o impacto negativo no quotidiano destas crianças e suas famílias.

 

Na escola

Existem alguns cuidados que são necessários para garantir a segurança e bem-estar de uma criança alérgica na escola.

  • Dar conhecimento: informar a escola sobre a alergia da criança, quais alimentos ou substâncias ela deve evitar e a que sintomas devem estar atentos.
  • Plano de emergência: a criança deve ter um plano de ação escrito do que fazer em caso de reação alérgica, e deve fazer-se acompanhar da medicação necessária.
  • Higiene pessoal: ensinar a criança sobre a importância de lavar as mãos regularmente, especialmente antes de comer, para reduzir o risco de contaminação cruzada.
  • Consciencialização e sensibilização: sensibilizar os professores, funcionários e colegas sobre as alergias da criança. Explicar a importância de não partilhar alimentos ou brinquedos que possam conter alergenos.
  • Atividades especiais: ter em conta as alergias da criança ao planear atividades especiais, excursões e festas escolares. Certificar-se que há alternativas seguras disponíveis.

As alergias são comuns na criança, ocorrem quando o sistema imunológico reage excessivamente a substâncias inofensivas. É importante identificar e evitar os alérgenos desencadeantes para garantir a saúde e o bem-estar da criança alérgica.

É fundamental que os cuidadores destas crianças tenham conhecimento da sua condição, a que sintomas devem estar atentos e conhecer o plano de acção em caso de agravamento.